Comer rabanada no natal e 12 uvas no ano novo, saltar sete ondinhas no primeiro dia do ano, vestir branco e deixar oferendas para Iemanjá são algumas das tradições das festas de fim de ano no Brasil. Para nós, esses já são costumes enraizados, mas, para outras culturas, pode ser um exemplo do quão exóticos nós, brasileiros, podemos ser.
Com a chegada do período festivo, surge uma dúvida: Como são as tradições do natal e réveillon em outros países? O blogueiro Pedro Richardson, do Travel With Pedro, responde.
“Cada lugar é único. Alguns se assemelham ao Brasil nas festividades, outros não passam nem perto. Mas uma coisa é certa, cada um tem seu encanto”, afirmou o especialista em hotelaria e viagens.
Pedro, que já visitou 110 países, já morou em outros seis, e prefere visitar os lugares menos conhecidos e menos populares, selecionou cinco países com culturas distintas e relata como são as festas de fim de ano em cada um deles. Confira!
Rússia
A Rússia é um país cristão ortodoxo e segue o calendário juliano. Os russos celebram o natal no dia 7 de janeiro e, para eles, nosso 25 de dezembro é um dia como outro qualquer.
Embora os russos sejam muito religiosos, algumas das tradições natalinas do país provêm da era pré-cristã. Antigamente, na véspera de natal, mulheres solteiras iam às casas de banho russo (uma espécie de sauna) para consultar uma vidente no local. O motivo era prever se elas se casariam naquele ano. Hoje a tradição mudou e envolve toda a família, com leitura de tarô ou borra de café, por exemplo.
Os religiosos fazem um jejum de quarenta dias que termina no natal. A véspera de natal (6 de janeiro) é o último dia de jejum, e no dia seguinte o natal é celebrado com um banquete com produtos típicos, principalmente legumes em conserva, acompanhado de tortas de carne, champignon e zbití, uma bebida à base de mel e diferentes especiarias.
Com temperaturas muitas vezes na casa dos -20 ou -40 nessa época do ano, muitos russos em cidades menores e vilarejos costumam alternar entre fazer sauna e em seguida pular num lago ou rio semicongelado. Dizem que o choque de temperatura faz bem à saúde e revigora o corpo para enfrentar os desafios do novo ano.
Geórgia
A Geórgia, que é um dos meus países preferidos e que fica entre a Rússia, a Turquia e o Mar Negro, comemora o natal também no dia 7 de janeiro, mas a data mais importante do período festivo é o réveillon.
O dia da troca de presentes é 31 de dezembro. As crianças acreditam que nessa data o Vovô de Neve, um senhor de barba branca e roupa também branca vem deixar os presentes, bem ao estilo do nosso Papai Noel.
No dia de natal, uma tradição importante é o Alilo, uma procissão na qual pessoas de diferentes congregações usam uma túnica branca com uma cruz vermelha (a cruz de São Jorge). É comum, também, ver crianças vestidas de anjo e adultos de pastores de ovelhas, uma alusão ao nascimento de Jesus num estábulo.
Tudo na Geórgia termina em comida, e após o Alilo, as famílias se reúnem em um grande almoço com pratos tradicionais e regado a muito vinho local e tchatcha (também conhecida como vodca de vinho), que são as bebidas tradicionais do país. Aliás, a Geórgia é onde o vinho nasceu, há cerca de 8 mil anos.
Curiosamente, o país tem duas comemorações de ano novo. Além da do dia 31, tem o “antigo ano novo”, que acontece no dia 14 de janeiro e é uma comemoração do ano novo da igreja ortodoxa. Porém as comemorações são mais religiosas e menores que as de 31 de dezembro.
Turquia
E quem disse que o natal também não acontece em países muçulmanos? 98% da população turca é adepta ao islã. Embora o natal não seja necessariamente comemorado pela população, na Turquia as cidades recebem decoração natalina, principalmente nas grandes avenidas e shoppings, com direito a muitas luzes, árvore de natal e até Papai Noel.
A pequena população cristã do país é dividida entre católicos e ortodoxos de diferentes denominações. Cada igreja comemora a data seguindo seu calendário. Em Istambul, por exemplo, a igreja de Santo Antônio celebra a missa do galo no dia 24 de dezembro.
O país é uma boa opção para quem gosta do clima natalino, mas não suporta ouvir Jingle Bells ou Last Christmas.
Filipinas
As Filipinas são um país asiático muito católico. Em se tratando de natal, eles são os que mais aproveitam as festividades. Isso porque no país eles começam a se preparar para o natal já em setembro. Estive no país entre setembro e outubro e os shoppings e muitas casas já tinham decoração de natal, com direito a presépio e neve artificial – já que o país é tão quente quanto o Brasil.
Natais longos à parte, uma tradição filipina é o ritual do mano no natal. No país, as famílias se reúnem e as crianças são obrigadas a cumprimentar os avós beijando ou colocando a testa sobre sua mão (é como se pedia a bênção a um parente mais velho antigamente no Brasil).
O pequeno ritual é seguido pelo ang pao, a entrega de envelopes vermelhos ou azuis que os avós dão de presente aos netos. No envelope, eles colocam dinheiro – a quantia pode ir desde um valor irrisório a algo mais substancial. A intenção é que a criança possa comprar o próprio presente que quer no natal.
Os filipinos terminam as comemorações de natal no dia 6 de janeiro, dia dos Santos Reis. Ao contrário de algumas regiões do Brasil, que comemoram a data como uma festa mais pagã, nas Filipinas a celebração é comandada pela igreja com muita missa e oração.
Alemanha
Entre os países ocidentais, a Alemanha é um dos mais interessantes na época do natal. As comemorações começam já no dia 5 de dezembro com o dia de São Nicolau. Na véspera, as crianças limpam os sapatinhos e os deixam do lado de fora de casa. No dia seguinte, encontram os sapatos cheios de doces “deixados” por São Nicolau.
A Alemanha também criou o calendário de advento: são 28 janelinhas (para quatro semanas), sendo a última aberta no dia de natal. As crianças abrem uma janelinha todos os dias, para revelar um desenho, uma poesia ou até mesmo docinhos e pequenos presentes natalinos. Tradicionalmente, cada família faz o seu calendário, mas hoje em dia é comum encontrá-los à venda nas lojas.
Em famílias mais numerosas, os membros se reúnem na casa dos avós no dia 24 de dezembro para comer doces típicos da época – geralmente biscoitos e suspiros – enquanto as crianças cantam músicas natalinas ao redor da árvore.
Finalmente, a Alemanha também inventou os mercados natalinos, que se espalharam pela Europa e hoje já estão em outras partes do mundo. Nos mercados eles vendem produtos artesanais, acessórios e decoração para a casa. Além disso, no frio dos mercados natalinos, é possível beber o Glühwein (vinho quente com canela e outras especiarias), uma das melhores invenções alemãs para se aquecer nas noites frias que precedem o natal.